O paulista Marcus Aurélio Kouyomdjian trabalhava em uma concessionária
de veículos quando seu perfil profissional, postado na rede social
LinkedIn, chamou a atenção de uma grande loja de produtos veterinários.
Ele não estava procurando emprego na época, 'mas quando veio o convite
para o processo seletivo, pensei: Vou ver o que acontece', conta à BBC
Brasil.
Marcus Aurélio acabou aceitando o novo emprego. E recomendou a seu
filho mais velho, Pedro, que também levasse seu currículo às redes
sociais. Pedro, um engenheiro de 25 anos, tampouco pensava em mudar de
emprego, mas recebeu uma proposta interessante e acabou aceitando uma
vaga como coordenador de obras.
As redes sociais estão trazendo mudanças às dinâmicas de busca de
empregos, tanto para profissionais como os Kouyomdjian quanto para
empregadoras, apontam especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Para começar, o contato entre Marcus Aurélio e Pedro e as empresas que
os contrataram só ocorreu graças às redes sociais. Nos EUA, esse
fenômeno foi batizado de 'procurar emprego passivamente' ('passive job
seeking') - ou seja, alguém que não estava ativamente atrás de um novo
trabalho pode acabar aceitando uma oferta atraente que tenha a ver com
seu perfil e seus interesses.
'As redes sociais quebraram paradigmas (no processo) de contratações',
diz à BBC Brasil Milton Beck, diretor de soluções de talento da rede
social profissional LinkedIn, que tem 13 milhões de usuários no Brasil e
238 milhões no mundo. A rede usa algoritmos para cruzar pré-requisitos
de vagas disponíveis como perfil dos profissionais cadastrados, de
acordo com sua experiência e características postadas online.
Segundo Beck, 70% dos usuários não estão no LinkedIn em busca de
empregos, mas sim para manter-se visíveis, fazer contatos e participar
de grupos de interesse.
'Eles já estão empregados, mas se surgir uma oportunidade de
crescimento profissional, estão abertos a conversas. Antes das redes
sociais, essas pessoas não estavam acessíveis em grande escala para as
empresas que buscam contratá-los.'
Rapidez e padronização
Outra mudança, diz Marcelo Miguel Raffaelli Filho, diretor da
consultoria Great Place to Work, é que 'a informação de vagas
disponíveis e de candidatos interessados fica mais rápida': torna-se
possível filtrar candidatos por formação acadêmica ou cidade onde mora,
por exemplo.
'A padronização dos currículos também facilita a comparação dos
candidatos; e temos mais qualidade e quantidade de informações
disponíveis sobre eles, como cursos, conquistas profissionais e
habilidades que muitas vezes não estão no CV impresso. É uma via de mão
dupla: o candidato passa a ter (acesso) a mais conteúdo sobre as
empresas', agrega Raffaelli.
E não é só no LinkedIn. Algumas empresas e recrutadoras buscam
informações dos candidatos em outras redes, como Facebook, Google+ e
Twitter, ou criam páginas de carreiras no Facebook como um ponto de
contato com potenciais novos funcionários.
Um levantamento de abril do grupo Society for Human Resource
Management, nos EUA, mostrou que 77% das empresas pesquisadas relataram
usar cada vez mais as redes sociais para recrutar funcionários.
Dicas
Como, então, aproveitar o potencial da rede para melhorar sua exposição
e seus contatos profissionais? Veja o que sugerem especialistas
consultados pela BBC Brasil:
Manter o perfil atualizado e com o máximo de informações relevantes. 'É
bom ser detalhado - isso ajuda headhunters a identificar bons
candidatos em potencial', diz Giuliana Tranquilini Hadade, da empresa de
recrutamento GNext.
No caso do LinkedIn, 'quanto mais detalhado o perfil, melhor será
entendido pelos algoritmos, que poderão fazer o melhor cruzamento entre o
perfil e as vagas adequadas', diz Beck. 'E o perfil não é apenas um
currículo: permite detalhar resultados obtidos em trabalhos anteriores,
anexar vídeos, apresentações ou palestras feitos pelo profissional e
mesmo grupos de interesse e causas que ele defende.'
Beck também sugere ilustrar o perfil com uma foto - de ar profissional,
é claro. 'A foto torna as pessoas mais tangíveis, o que aumenta sua
possibilidade de se conectar com outras.'
Limite seus contatos a quem te interessa. Para Beck, não adianta usar
redes profissionais para seguir um grande número de pessoas e empresas
indiscriminadamente. 'Siga empresas e grupos que te interessam e pessoas
que você conhece. Caso contrário, vai se desviar (de seus objetivos)',
diz.
Segundo Raffaelli, da Great Place to Work, isso significa também se
relacionar com empresas que você admira e com as quais se identifica -
essa aproximação pode, em algum momento, se converter em oportunidades
profissionais.
Prepare-se para a entrevista. Para Hadade, as redes sociais não
substituem o contato cara a cara. 'A rede social é um filtro inicial.
Mas a entrevista permite conhecer o candidato e seus valores', diz ela.
Bom senso, sempre. Muitas empresas de RH dizem que se limitam às redes
sociais profissionais e ficam longe de redes de caráter mais pessoal,
como o Facebook, quando o assunto é avaliar seus candidatos.
'Respeitamos a privacidade dos candidatos', diz Raffaelli, da Great
Place to Work. Outras usam Facebook e Twitter para conhecer melhor as
pessoas que querem recrutar.
Seja como for, é importante lembrar que o que postamos online pode ser
acessado por empregadores em potencial, diz Hadade. 'Hoje, o que
colocamos na internet é como uma tatuagem, que nos acompanha pela vida. É
bom ser verdadeiro e transparente, mas também ter bom senso quanto a o
que pode te prejudicar profissionalmente.'
Indicações
Claro que a rede não traz só vantagens: muitos podem receber abordagens
inconvenientes ou ofertas de vagas que não têm a ver com seus rumos
profissionais. E, mesmo antes das redes sociais, já proliferavam sites
de empregos e RH.
E, ainda que a internet seja cada vez mais usada para recrutamento,
para o engenheiro Pedro Kouyomdjian, 'ainda não tem nada igual às
indicações pessoais'.
'Mas as redes sociais são boas para você se manter no mercado. Quando
precisar, alguém pode ter ouvido falar de você e visto seu perfil
online.'
Seu pai, Marcus Aurélio, já trocou o emprego que conseguiu pelas redes
sociais por outro, de consultor de vendas corporativas de veículos,
obtido graças à sua rede pessoal de contatos. Ele acha que a web é muito
boa para fazer 'networking' e torná-lo mais visível no mundo
corporativo. 'Mas não dá para depender só dela.'
Fonte: Portal G1
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