“Certo dia, quando fui à cozinha após acordar, pela
manhã, vi a tampa do filtro de barro roída. A cada dia que passava, o
dano ficava maior e maior”, lembra a dona de casa Roseneide Moura. O que
ela não esperava era encontrar o autor em flagrante quando levantou de
madrugada para tomar água. “Para minha surpresa, não era um rato, mas
sim minha irmã grávida”, diverte-se.
Assim como a irmã, a dona de casa sentiu desejos
esquisitos durante sua única gestação. “O cheiro forte da terra molhada
atraía meus sentidos, então eu pegava o tijolo, colocava na água para
amolecer um pouco e depois comia como se fosse uma barra de chocolate”,
conta ela, que adicionou à lista de cobiças também pitomba verde e
cajarana.
O obstetra do Hapvida Saúde, Alexandre Melo, comenta
que a adesão de desejos no período gestacional atinge grande parte das
mulheres, e são externados também em vontades de isolamento e sexuais,
não só de ingestão de alimentos e não-alimentos, como se conhece. “Ainda
não existe uma explicação científica para essa alteração, mas
trabalhamos com a hipótese de que é motivada pelo organismo pedindo
funções ou nutrientes em carência. O barro ingerido pelas irmãs pode
representar a deficiência de ferro”, afirma. Essa ação é inconsciente, e
a gestante não tem controle sobre ela.
Entretanto, degustar coisas não comestíveis pode ser
perigoso, provocando, por exemplo, intoxicação. Por isso é importante
um acompanho multiprofissional, onde, além do obstetra, psicólogo e
nutricionista vão auxiliar para a saúde tanto do bebê quanto da mamãe.
“O mais correto, nesses casos, é optar por alimentos que possam
substituir os nutrientes em falta. Contudo, se a dieta da gestante já
estiver balanceada e for traçada por um profissional de nutrição, é
provável que não apresente faltas”, diz Alexandre.
“O que acontece é que as mulheres ficam presas à
ideia de que tem que comer aquilo e ponto. Existe uma cultura forte em
relação a isso, que aponta prejuízos físicos ao bebê, datada do início
do século anterior. A criança não vai nascer com cara de reboco de
parede se você deixar de comer isso”, orienta ele.
Mas observe a balança. O comum é ganhar, em média,
de 9 a 12 quilos, mas como a população brasileira é miscigenada, fica a
depender do porte e estatura. É um dado muito individualizado que apenas
os profissionais que acompanham podem precisar.
A assessora de moda Marcia Brayner é cética quanto à
importância dos desejos. “É mito”, afirma, contando que não sentiu
essas vontades em nenhuma das duas gestações. “Eu acredito que nesta
fase a mulher fica mais vulnerável e procura a atenção e o mimo do
companheiro. Esses desejos são uma forma de receber essa devoção que ela
tanto precisa, com a intenção de que ele vai fazer tudo o que ela quer
para se sentir bem”, opina.
De fato, esse é um dos fatores. Pedir que o marido
cumpra essas exigências é uma maneira de aproximar o casal e fazer com
que ele participe mais da gravidez. “Afinal, o casal é quem engravida e
não só a mulher. Com o homem mais presente, a mulher se sente segura,
fortalecida e a imunidade melhora em consequência. O embrião também é
capaz de sentir as sensações, tanto positivas quanto positivas, criadas
externamente”, pontua o obstetra do Hapvida Saúde.
Quando a mulher percebe a participação do
companheiro, os riscos de desenvolver depressão durante e pós-parto
diminuem radicalmente, principalmente naquelas que já têm histórico da
condição psicológica. Desejos de manter-se isolada devem ser respeitados
sim, mas até o momento em que não apresentem possibilidade de danos à
saúde dela e do bebê. “Se for observado um desgaste longo e a
permanência em situação de isolamento, a intervenção profissional assume
caráter urgente”, indica.
Vida regular, sim
Um dos maiores erros é acreditar que a gestante fica
impossibilidade de realizar atos cotidianos. Elas não devem ser
limitadas, mas é importante que respeitem os limites para tudo. “A
produtividade deve ser mantida e incentivada, afinal, a mulher grávida
não é incapaz”, orienta Alexandre Melo.
Como citado anteriormente, os desejos durante esse
período tão importante da vida feminina podem ser externados de várias
maneiras. Os sexuais são alguns deles. A alteração da libido faz com que
o sexo se torne escasso na relação ou que a vontade permaneça em
constante atividade. Se a gravidez não for de alto risco, as relações
sexuais são liberadas.
Mas, como qualquer coisa na vida, é sempre bom
prezar pelo bom senso. Não devemos apoiar práticas maléficas nem
exageros”. Todos vão agradecer um dia.
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