Bernardo Pires Küster / Imagem: Captura Youtube |
Uma situação “preocupante”, assim Bernardo Pires Küster definiu à ACI Digital as recentes denúncias de que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) teria usado recursos do Fundo Nacional da Solidariedade (FNS) para financiar instituições que apoiam iniciativas condenadas pelo magistério da Igreja como, por exemplo, o aborto.
O caso veio a público em 19 de fevereiro, quando o site ‘Paraclitus’ divulgou uma nota intitulada ‘Coleta da Campanha da Fraternidade financiou MST e ONGS abortistas’.
Nesta denúncia, indicam que entre as instituições que receberam dinheiro do FNS estão a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), que defende a legalização do aborto, a Fundação Grupo Esquel Brasil e o Movimento dos Sem-Terra (MST).
Em seguida, no dia 21 de fevereiro, a CNBB publicou uma nota de esclarecimento, na qual afirma que “não financiou projeto algum de ‘ONGs abortistas’, nem de ‘grupos terroristas’, com recursos do Fundo Nacional de Solidariedade”.
Segundo a entidade, “um dos projetos financiados em 2017 foi o V Encontro dos Signatários da Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil, realizado em São Paulo, no mês de outubro de 2017”.
Entretanto, afirma que, como a Plataforma não possui CNPJ, “indicou a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG), uma de suas entidades signatárias, para assinar a parceria com o Fundo Nacional de Solidariedade, constando, apenas por isso, o nome da ABONG no site do Fundo como entidade responsável pelo projeto”.
Assim, o conhecido ensaísta e influenciador digital Bernardo Pires Küster publicou nas redes sociais um vídeo-documentário no qual afirma que recursos do FNS foram sim direcionados para a ABONG, bem como outras instituições que defendem posições contrárias aos ensinamentos da Igreja Católica. No vídeo, o leigo ressalta “que não está condenando a CNBB inteira, todos os bispos, todos os padres (...)”, e sim algumas decisões tomadas pela cúpula da entidade nos últimos anos.
“Se você for ver no próprio site da Plataforma existe um local em que consegue ver quem são os lançadores da Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil, os responsáveis, e lá está a ABONG”, indicou Bernardo em exclusiva à ACI Digital.
Assim, ressaltou que “de qualquer forma a ABONG está envolvida, e não só, mas também MST e, inclusive, a fundação Grupo Esquel do Brasil, que tem como uma de suas administradoras a ABONG. Ou seja, de qualquer maneira, de duas formas o dinheiro foi parar na ABONG”.
Logo, segundo Bernardo, em sua nota, a CNBB “só deu a impressão de que o dinheiro não foi para a ABONG” e acrescentou: “O pior, a CNBB disfarçou a informação”.
“Então, o dinheiro foi para a ABONG através da Esquel, da qual a ABONG faz parte, e foi para a Plataforma da qual a ABONG também é parte”, assevera.
Bernardo explicou ainda que “a finalidade do Fundo Nacional de Solidariedade é auxiliar organizações católicas e não católicas na prática do bem, ajuda ao próximo, humanitária, ou seja, o Fundo em si é uma coisa boa”. Entretanto, ressaltou, “o problema é a falta de critério” na escolha dos beneficiados.
Conforme assinalou, por exemplo, a “ABONG é uma associação nacional que visa reunir as organizações não-governamentais. Eles têm uma carta de princípios, na qual na parte ‘O que queremos’, afirma que, ‘enquanto associação de organizações que atuam em diversas áreas temáticas e dialogando com essas, defende: Fim de todas as formas de Imperialismo; Participação popular nas políticas com uma sociedade civil forte e plural; (...); Legalização do aborto; Reconhecimento civil das uniões homoafetivas; (...) Liberdade afetiva e sexual para todas as pessoas; e reforma agrária’”.
“Não estou dizendo que isso é certo ou errado, estou dizendo que vai contra a doutrina da Igreja. O problema não é essa associação existir. Ela tem o direito de existir. O problema é a CNBB passar dinheiro católico para eles, que defendem o que vai contra o que a Igreja Católica ensina”, declarou.
O Fundo de Solidariedade é resultado de uma coleta nacional realizada todos os anos no Domingo de Ramos, no contexto da Campanha da Fraternidade. Os recursos arrecadados são divididos entre o Fundo Diocesano de Solidariedade, que fica com 60% do total, e o Fundo Nacional de Solidariedade, para o qual são destinados os 40% restantes.
Até o ano de 2014, o FNS era gerido pela Cáritas Brasileira e, a partir de então, foi assumido pela CNBB. Tendo em vista essa mudança de administração, Bernardo contou que decidiu pesquisar sobre o uso dos recursos do Fundo em anos anteriores.
“Eu quis pegar um ano em que Cáritas assumiu para ver se era uma mudança com a CNBB. Em 2013, por exemplo, está lá financiamento de sindicato dos trabalhadores rurais da Jordânia (MG), associação dos Gritos dos Excluídos – que é notoriamente de esquerda –, Instituto do Desenvolvimento Humano de Agroecológico João Calazans – que é o pessoal da reforma agrária –, Fundação do Grupo Esquel, entre outros”, sublinhou.
Nesse sentido, ao assinalar que o que demonstrou “são fatos”, Bernardo diz acreditar que “cabe uma investigação mais aprofundada e que a CNBB tem que se explicar de maneira mais profunda”.
No vídeo, Bernardo cita nomes de responsáveis pela Campanha da Fraternidade, bem como pelo Fundo Nacional de Solidariedade e, conforme pontuou à ACI Digital, deu “nome aos responsáveis porque o responsável é uma pessoa não uma instituição, justamente para não entrar a CNBB inteira”.
“A verdade deve prevalecer, ainda que ela deponha contra alguns membros da Igreja”, reforçou e acrescentou: “Eu não estou dividindo a Igreja, estou defendendo a Igreja”.
“Eu recorro, inclusive, ao próprio Santo Tomás de Aquino, que na Suma Teológica diz que, quando algum fiel ou alguém do clero comete um pecado ou erro e é público e o dano e extensivo, ou seja, não fica só nele, ele precisa ser corrigido e exposto publicamente, para que seja corrigido da mesma forma que ocorreu”, completou.
Segundo Bernardo, esta “é uma situação desconfortável, mas deve ser feita”. “Não estou defendendo direita ou esquerda, estou defendendo a Igreja. Que fique claro, eu amo a Igreja. Mas, ela está infiltrada, como sempre esteve”, concluiu.
Fonte: ACI Digital
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